Plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro são as três ditas tarefas a realizar antes de morrer. Porém, discordo de que se possa arrolá-las como realizações possíveis, já que não acho que possam ser concluídas.
Ter um filho nunca é um gesto acabado, é preciso criá-lo e ficar negociando com o jeito como ele se inventa. Podemos ser semente e terra, mas não passamos de ponto de partida.
Escrever um livro é o começo de um vício. Cada obra já sai da editora como mais uma tentativa fracassada de dizer algo que nos escapa, daí a necessidade do próximo.
As árvores, bom, crescem por conta e dependem muito do ambiente. Mas como seria escrever um livro e criar um filho ao modo "bonsai"?
Nossa necessidade de propor que um filho estude, faça desporto, realize tarefas enfadonhas e se esforce para aprender, reduz a sua liberdade e o tempo de brincar.
Educar lembra os suportes de arame que são também usados para que os galhos do "bonsai" se direccionem equilibrada e graciosamente. Envolve suportar que seus galhos, no sentido de sua identidade, suas escolhas, seus dons e também que suas humanas imperfeições assumam formas imprevistas.
Ao crescer empalidecem os traços e intenções dos pais. Quem escreve um livro também sente que a autoria lhe escapa, tem-se pouco controle sobre o estilo, o tema escolhido, o tamanho que ele vai ter.
Não é possível deixar que livros, filhos ou árvores plantadas cresçam de forma selvagem; eles precisam de cuidados e até de podas para florescer.
Por outro lado, precisam tornar-se “traidores” dos seus autores, sejam eles pais ou escritores. Eles se avolumam na arte de ter vida própria e o seu destino os transcende. A criatura sempre escapa do criador.
Seres que se assemelham aos bonsais, filhos perfeitos em representar nossos ideais, não são viáveis para enfrentar os ventos e a chuva do mundo lá fora.
DIANA CORSO (psicanalista e autora do livro Tomo Conta do Mundo – Confissões de uma Psicanalista)
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