terça-feira, 10 de julho de 2012

DO TEMPO. NO AGORA!

""   Recuo no tempo a passo lento, dentro do espaço em que me encontro.
Recuo no tempo a passo acelerado, dentro do que sou.
Neste estágio absorvo o valor das coisas e a importância que para mim têm.
Aprecio as vivências da história por mim vivida.
Retrocedo no tempo sem parar em lugar algum, saudando, saudosamente, cada canto outrora meu.
Aproximo-me do ponto em que parti de mim para lugares que não foram meus, mas que me pertencem por direito à vida que de mim nasceu.
O tempo que foi meu, cruzou-se com o tempo, no tempo em que fiz desse tempo, ventre dos delicados frutos meus.
Por um tempo deixei num cantinho, esquecidos e adormecidos, os sonhos, os ideais, arquivados em lugar recôndito de um jardim florido, ameno e perfumado.

Encontrei o momento em que me encontro no ponto de partida a que me recolhi no dia em que te conheci.
Tu, que foste o instante que foi urgente viver, para dar sentido ao destino, à vida tua e minha.
O terceiro ser devolveu-me ao tempo em que renasci, transportou-me de volta ao lugar em que fiquei retida. Agora recupero o que é meu por direito, recupero a vida que é minha, recupero o tempo que perdi, o tempo que ganhei no tempo em que aprendi, o tempo em que cresci, junto com quem nasci e a quem fiz crescer.
A alvura do tempo que vivo é imprescindível para a compreensão do tempo.
Do movimento crescente na quietude deste meu fado que a ventura acalenta.

Do tempo. No agora!
 

Edite Pinheiro 

Jul, 08 / 2012 ""
  

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Hoje estou assim

Chega um dia ou uma hora em que precisamos mesmo deitar fora coisas que nos atrapalham os pensamentos. Sejam elas preocupações do dia a dia, sejam aqueles pequenos nadas que vamos adiando e nunca mais resolvemos, seja aquilo que queremos dizer a alguém e achamos sempre que não é o momento oportuno, ou mesmo a raiva que acumulamos por quem partilha connosco o local de trabalho!
Acontece-me muito ficar ansiosa se não consigo fazer o que tenho na ideia, e começo a perder aquela euforia (se é que assim se  lhe pode chamar) do momento em que pensei e que achei que era o momento certo. Parece que algo dentro de mim esmorece e me tira a vontade, apesar de a minha consciência estar sempre a bater-me dizendo: olha!... faz!... tens que fazer!... tens que ir!... vai!... e não sai do meu pensamento.
Em tempos costumava comentar (desabafar) com a colega que sai à mesma hora que eu, mas acabei por evitar até sair quando ela, porque a nossa conversa transformava-se sempre numa espécie de reacção afirmativa da parte dela, que quase me convencia de que de algumas coisas estavam mal porque eu devia fazer assim e tal ... e devia obrigar os outros a fazer também ... porque nós devemos pensar primeiro em nós e só depois nos outros (ainda que sejam nossos filhos). Aquela situação transformava o meu desabafo em frustração.
Procurando encontrar alguém das minhas actuais relações que eu entenda servir de contentor das minhas mágoas, cheguei à conclusão de que mais vale estar calada, que quando o meu saco estiver muito cheio ele vai acabar por deitar fora, o que eu espero não aconteça porque aí as coisas pioram. 
Percorro com o pensamento, as amizades que  fiz e se desfizeram ao longo da vida, aquelas que se foram mantendo mas não correspondem às minhas expectativas, penso nos irmãos e nas primas, das mais próximas às mais afastadas, aquelas que tinha na infância e aquelas que só conheci mais tarde, e não encontro um portão florido que me acaricie à chegada, e cujo perfume das flores eu possa levar à saída.