sexta-feira, 29 de maio de 2015

A mãe ...

Há muito que nos habituamos a não fazer grandes perguntas, talvez porque na resposta havia sempre uma pergunta (porquê?) e quando as respostas não são espontâneas as perguntas tornaram-se escassas, como as respostas. Quando pai ou mãe perguntam é sempre com o melhor sentido, com o sentido de saber, por exemplo, se o que está a fazer relativamente aos filhos é bom ou mau, não será bem nem mal, será como é ou como pode ser, o melhor que sabe, o que acha melhor, mas sempre pensando na melhor maneira, e a resposta do filho é o "feed-back" que precisa de sentir. A mãe ouve na escola que ele é bom aluno, que é um bom rapaz, que é muito educado, que é já um cidadão como gostariam que fossem todos, ou pelo manos a grande maioria. A mãe ouve também fizer na escola que com ela, a filha, nunca há problema nenhum, está tudo bem, aliás, podia melhorar, podia fazer-se ouvir mais para que dessem mais pela sua presença na sala de aula. O pai escuta orgulhoso aquilo que a mãe lhe conta, do que lhe vai sendo transmitido na escola.
Nos dias de hoje (presente e também já com algum passado) uma mãe tem múltiplas tarefas, múltiplas funções, múltiplas responsabilidades, múltiplas ondas em simultâneo. E sente que não as consegue sintonizar todas, não porque ela não tente, ela tenta, ela quer, ela é ... e não chega. 
E com o passar do tempo, ela cada vez mais sente o perigo em cada esquina, em cada cruzamento, em cada caminho onde as luzes ainda não acenderam e já escureceu. A preocupação é muita, toma conta dela e sem que ela dê por isso, instala-se. Fica ali dentro, passa a fazer parte da sua rotina, ocupa um lugar que ela nem sabia que existia. É o medo, sim agora é medo, e ela pensava que era só uma preocupação. No entanto há sempre mais uma e outra e outra ainda, que lhe deixam o rosto menos sereno, mais duro, e um coração mais débil, como uma carência permanente, talvez de uma resposta simples, uma simples resposta a todas aquelas perguntas que lhe perturbam a consciência, e ela já nem sabe onde está, como está ou se apenas existe. Quantas perguntas, quantos medos, ela nem quer saber o porquê de tanta insegurança. 
Nada nem ninguém lhe diz o que deve fazer ou que está a fazer bem, que é isso que deve fazer, e por dentro toda ela treme enquanto veste aquela máscara de mulher forte, que não é mas quer ser e quer fazer e quer estar lá ... sempre, ainda que quase sempre não consiga ver-se, acha que está algures num canto, muito calada e escondida, para que a sua voz não ocupe o espaço que ela sente que já não tem (e precisa) Onde? Onde, se ela mesma não se vê ali, se sente que não faz parte, onde todos entram e saem e não dão por ela. A mãe sente-se invisível e fica triste por pensar que ninguém sentiu a sua presença, a presença dela ... 

Ela não tem pressa, mas quer aprender a andar antes que o mês acabe, este mês de maio (mês de mãe) mês de Maria. Ela está com esperança que vai conseguir.

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