"Há alturas em que não me sinto deste tempo. Onde tudo é descartável e fácil. Onde se coloca no lixo aquilo com o qual não nos apetece lidar. Onde não é necessário empenharmo-nos no que dá trabalho, pois do outro lado da rua se encontra com facilidade uma outra opção disponível e menos trabalhosa. Que até sorri e é leve e fácil.
Não sou deste tempo onde se acha que se ama, mas assim que algo treme, se dá um passo atrás e se decide ir em busca de algo que não nos desnorteie as ideias. Em sucessão. Buscando em vão uma relação perfeita. Ou que, por e simplesmente, não nos mace e dê dores de cabeça. Não dando tempo, sequer, para perceber o que poderia - ou não - resultar. Onde é mais fácil desistir do que persistir.
Decididamente, não sou deste tempo fácil e de descarte automático. Onde se sente pouco e em doses controladas. Não sei entrar pela metade de mim, resguardando o resto para, no caso de correr mal, os estilhaços não serem por inteiro.
Dou-me sem nunca aprender e não fazendo pagar a quem chega as atitudes de quem se ausentou.
Não sei mostrar apenas a superfície de mim.
Não sei ser ao de leve.
Não sei ser só um bocadinho.
Não amo com facilidade mas, quando amo, amo com tudo de mim.
Amo, não sem espernear, tudo do outro.
No bom e no mau.
No fácil e no difícil.
Não sou deste tempo. E não quero aprender a ser."
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